Luís Filipe Costa: Salvar a Memória
O Museu do Aljube acolhe um ciclo dedicado à série RESISTÊNCIA de Luís Filipe Costa, com a exibição dos 8 episódios entre o dia 19 e 28 de Março.
“Em 2000 comemoravam-se os 26 anos do 25 de Abril, e a RTP transmitia a série RESISTÊNCIA com realização de Luís Filipe Costa. No entanto, foi emitida em horário muito tardio, já na madrugada de 26, na RTP2. Quem poderia ainda ser incomodado, tantos anos depois?
A verdade é que parece ainda incomodar, 50 anos depois. Nenhuma homenagem foi feita pela RTP a um homem que tanto lhe deu. A série continua na sombra. E que bom seria emiti-la num horário adequado para as novas gerações que ignoram as histórias de luta de quem ajudou, com sacrifício da sua própria vida, a instaurar a liberdade.
Procurei que fossem histórias de pessoas e, ao recordá-las, perpassassem nelas os bons e maus momentos dessas vidas
Luís Filipe Costa ao jornal Público.
Histórias de pessoas incomodam ainda. A memória é apagada. Ecos de Abril perturbam aqueles para quem a liberdade é sinónimo de obstáculo ao Poder que desejam para si próprios.
Estamos a viver momentos de profunda viragem, de extremismos, de separação de águas. Tudo se torna claro, tanto do lado do indivíduo, como do colectivo.
O 25 de Abril ligou-nos, apelou ao que de melhor há no ser humano: servir um Bem Maior, acabar com as diferenças, promover a igualdade. Não é utopia. É possível e sê-lo-á no futuro, assim o creio.
Mas antes, há que sofrer a ferocidade e voracidade daqueles que, a todo o custo, querem manter a divisão, a desigualdade, a iliteracia, a ignorância. Sempre ouvimos a frase: “Dividir para reinar”. E a História é generosa em exemplos de criadores de divisão, ditadores e tiranos que começam por dividir entre “bons” e “maus”, para imporem o seu Poder. Assistimos a isso exponencialmente nos tempos que correm. O que é o “politicamente correcto” (instaurado por quem?) senão uma grande fragmentação da Humanidade? Em nome da igualdade, atrocidades são cometidas, dividindo tudo o que deveria ser unido: etnias, sexos, religiões, partidos, países, etc. etc. Criando pequenas células que não interagem, mas se confrontam. Células saudáveis estão conectadas entre si, cooperam, geram abundância, formam Vida. Células doentes não se conectam, acabando por morrer. Assim é o ciclo natural da Vida e do Universo.
Ao dar a conhecer, através de testemunhos, a história daqueles que ofereceram as suas vidas para um Bem Maior, Luís Filipe Costa arriscou ser marginalizado, uma “Voz” a ser silenciada.
Esse silêncio à volta da série foi destacado por alguns jornalistas aquando da emissão tardia, em 2000:
Correia da Fonseca: O conjunto dos testemunhos reunidos por LFC, muitos deles recolhidos nos arquivos da RTP, outros recentes, … são elementos preciosos para a construção da História do país e fundamentais para a lucidez cívica dos cidadãos.
Mário Castrim: “Corre na RTP uma das séries mais valiosas desde sempre elaboradas na casa: RESISTÊNCIA de Luís Filipe Costa. Já disse, torno a dizer e torno a apelar para o Ministério da Cultura (cujo assentimento tenho por certo) e o Ministério da Educação, por isso mesmo é que é da Educação: esta série devia estar em cassetes de vídeo e distribuídas pelas escolas do país. Pois que faz Madame? Atira-a para dentro da madrugada. Um único fito: que se veja o menos possível. Uma pessoa até pensa que pode ser um insulto aquilo que está a pensar. Vamos então não pensar, isto é que, por trás de tudo, há motivações ideológicas. Mesquinhas.”
“Há sempre alguém que resiste. Neste caso, Luís Filipe Costa, um dos mais prestigiados realizadores portugueses. A sua série “Resistência” será a mais importante iniciativa para ir em busca das raízes do 25 de Abril… uma série monumental. LFC luta por salvar a memória do naufrágio.
SALVAR A MEMÓRIA é precioso. É fundamental.
A minha homenagem ao Homem que lutou por um mundo melhor.
O meu Amor sempre ao Homem com quem tive o privilégio de partilhar a minha vida.
A minha Gratidão ao Mestre que tanto me ensinou.
Viva a Liberdade.
Viva o 25 de Abril.”