Memorial aos Presos e Perseguidos Políticos. https://www.memorial2019.org/site/

Rosa Vilar da Silva

(Lourosa, Santa Maria da Feira, 1946 — Lourosa, Santa Maria da Feira, 14.10.1964)

A 14 de outubro de 1964, teve lugar um episódio de grande violência discricionária perpetrada pela Guarda Nacional Republicana (GNR) sobre a população de Lourosa. O «cerco de Lourosa» fez duas vítimas mortais e dezenas de feridos, mas caiu no esquecimento como acontecimento histórico. Apesar de tudo, cinco anos depois, em 1969, Bernardo Santareno publicou a peça de teatro A Traição do Padre Martinho, inspirada nestes acontecimentos.

Rosa Vilar da Silva nascera, provavelmente, em 1946. Há, no entanto, a certeza de que morreu em 1964 durante a repressão pela GNR do protesto popular na aldeia de Lourosa, Santa Maria da Feira, contra a retirada do pároco da freguesia, Damião Olindo das Neves Basto. Jovem de 26 anos, chegara há pouco à terra para dar apoio ao pároco local já bastante envelhecido. Com a morte deste, em junho de 1964, o padre Damião assumia a paróquia. Estabelece uma relação de grande proximidade e confiança com a população, nomeadamente entre a juventude e os meios operários da indústria corticeira, recusando-se a receber honorários da população mais pobre.

O administrador apostólico do Porto, Florentino de Andrade Sousa, que substituíra o então exilado bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, afastado por razões políticas, vai ordenar a transferência de Damião, tido como demasiadamente progressista.

A população indignada, sobretudo as mulheres, rapidamente se mobiliza para impedir a transferência do padre, organizando vigílias permanentes para bloquear a sua saída.

No dia 14 de outubro de 1964, forças da GNR compostas, segundo os relatos, por centenas de homens cercam a aldeia para retirar o padre
Damião. A população reage, há confrontos e os soldados da GNR, fortemente armados, abrem fogo. Ferem cerca de vinte mulheres e matam
Rosa que teria 18 anos e outra jovem, Maria de Lourdes Oliveira.

Outros testemunhos