Vidas na Resistência – José Mário Branco – ESGOTADO
“Foi uma prisão estranha. Tínhamos uma visão heróica da prisão, bem verdadeira em muitos casos. Os tipos do partido davam-nos um folheto que dizia “se fores preso camarada” a explicar como é que se resistia à tortura. Era estudante em Coimbra mas sou preso no Porto a 28 de abril – acho que era o dia de anos do Salazar. Normalmente, prendiam malta marcada antes do 1.º de Maio para evitar grandes manifestações. Levaram-me para Coimbra, pernoitei na PIDE de Coimbra e no dia seguinte levaram-me para Lisboa para a sala do Aljube. Vieram mais dois que estavam no Norte. Entro na sala e vejo as 21 pessoas que eram a estrutura do PC em Coimbra. Olhámos uns para os outros e pensámos: eles sabem tudo. Percebemos que tínhamos sido denunciados. E tínhamos, pelo funcionário clandestino do PC, responsável por aquela região. Depois soubemos que tinha dado 300 nomes de todo o país. Foi uma prisão em que a PIDE sabia mais sobre mim do que eu próprio. Sabiam tudo o que eu sabia e o que se dizia de mim em relatórios e informações.”
José Mário Branco, Jornal i, 02/12/2018
Nesta conversa conduzida por Ana Aranha, com a participação de alunos da licenciatura em Comunicação e Jornalismo – ULHT, José Mário Branco vai falar-nos de uma vida de resistência e luta, que acabou por o levar ao exílio em França em 1963, tendo regressado a Portugal apenas depois do 25 de Abril.