Cartas do mau encontro
“Cartões de visita, álbuns, postais, cartazes. Instrumentos imagéticos que tornaram a fotografia em uma ferramenta muito operativa para a propaganda colonial, criando, por um lado, a visualidade dos símbolos do progresso europeu, e por outro, desenhando as colónias como lugares exóticos. Os mapas serviram a política colonial e, em alguns casos, foram reivindicações de posse antes mesmo dos territórios neles representados serem efetivamente ocupados. Serviram para o ministério das colónias dividir, invadir, organizar e tentar controlar cultural e economicamente o Outro, o suposto selvagem primitivo. Os mapas, como uma forma de saber, mas sobretudo como instrumentos de poder, como nos recordava Foucault entre outros, são as cartas do desejo imperialista. Sobre eles, dispõem-se fotografias que se assumem como os instrumentos visuais de um encontro – o encontro dos povos originários com os invasores das suas terras e dos seus corpos.
É hoje cada vez mais evidente, que os documentos coloniais precisam ser problematizados na sua génese, para que possa ser evidenciado o sofrimento e o confronto que envolveu tal experiência. Para além das imagens do exótico, o mau encontro foi permeado pela resistência dos povos representados nas fotografias, que, por algum motivo, estiveram nas imagens. As fotografias e mapas apresentados nesta mostra, trazem nas cores, nas linhas, no metal, nas junções, uma narrativa para despertar o olhar, os sentidos e a perceção dos processos de opressão e resistência.”