António Carlos de Carvalho Ferreira Soares
(Monserrate, Viana do Castelo, 05.02.1903 — Nogueira da Regedoura, Santa Maria da Feira, 04.07.1942)
António Carlos de Carvalho Ferreira Soares, filho do escritor e juiz António Ferreira Soares e de Inês Ferreira Soares, nasceu em fevereiro de 1903 em Monserrate, Viana do Castelo.
Formado em Medicina, Ferreira Soares é um intelectual seareiro que faz a passagem do racionalismo para o marxismo e o comunismo. Adere ao Partido Comunista Português (PCP) ainda na década de 1930, integrando o Comité Regional do Douro, e à Frente Popular Portuguesa. Desde 1937 que seria procurado pela Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE), sendo a 25 de agosto desse ano julgado à revelia pelo Tribunal Militar Especial do Porto.
No início dos anos quarenta, foragido, trabalhou na reconstrução do PCP e do Socorro Vermelho Internacional (SVI) no Porto. Escapando sucessivamente às malhas da polícia política, será julgado novamente à revelia, já claramente identificado como secretário do Comité Regional do Douro do PCP, e condenado a quatro anos de prisão correcional e perda dos direitos políticos por cinco anos. Forçado à semiclandestinidade, escondeu-se em casa da irmã em Nogueira da Regedoura, Santa Maria da Feira. Aí dinamiza a vida cultural e associativa local e dá consultas médicas gratuitamente, valendo-lhe a estima, a admiração e o apoio da população local.
A partir de uma série de prisões em abril de 1942 de elementos do PCP, acusados de estarem envolvidos no assassinato de um industrial no norte, a PVDE conseguiu novas informações sobre a organização do partido na região do Porto e sobre o paradeiro de Ferreira Soares, que é assassinado no dia 4 de julho de 1942 por elementos daquela polícia. Tinha 39 anos.
As várias versões do episódio são, inevitavelmente, contraditórias. Em comum têm o facto de se ter tratado de uma cilada. Alguém (um agente da PVDE ou uma mulher, consoante as versões) ter-se-á feito passar por um paciente, requerendo assistência médica, chegando ao consultório de Ferreira Sores. Aí, um elemento da PVDE disparou sobre o médico, pairando a dúvida sobre a intencionalidade do homicídio, embora a família sustente ter-se tratado de uma morte premeditada e executada a sangue frio e não o resultado de uma luta corpo-a-corpo ou de tentativa de detenção.
Depois, ainda com vida, no caminho para uma casa de saúde em Espinho, terá sido novamente alvejado com tiros de pistola metralhadora, catorze no total.
Os agentes da PVDE envolvidos no caso, Leonel Laranjeira, António Roquete, conhecido ex-futebolista, e José Coimbra, foram absolvidos em Tribunal Militar, embora tudo indique que mais elementos desta polícia tenham participado nos acontecimentos.
A morte de Ferreira Soares, considerado por um elemento da Legião Portuguesa como o «indivíduo mais perigoso do Norte», foi recordada em vários trabalhos, nomeadamente de José Dias Coelho e Pedro Ramos de Almeida, e no romance A Casa Abatida: Quadros da vida aldeã, do seu pai, António Ferreira Soares.
Ao funeral do «Doutor Prata», como era conhecido, acorreram milhares de pessoas não obstante a intimidação policial.