Arnaldo Simões Januário
(Coimbra, 06.06.1897 — Tarrafal, Ilha de Santiago, Cabo Verde, 27.03.1938)
Arnaldo Simões Januário, filho de José Maria Januário e Maria Augusta Januário, nasceu a 6 de junho de 1897 em Coimbra, onde trabalhava
como barbeiro, distinguindo-se nos meios operários como um dos mais ativos militantes e propagandistas do anarquismo. Organizou em Coimbra os sindicatos operários, integrou o comité da União Anarquista Portuguesa e foi animador do Centro e Biblioteca de Propaganda e Estudos Sociais. Em 18 de março de 1923, participou na Conferência de Alenquer, como delegado do Grupo Anarquista de Coimbra. Colaborou em publicações como A Batalha, órgão da Confederação Geral do Trabalho (CGT), A Comuna, O Anarquismo, O Libertário ou Aurora. Preso pela primeira vez em 1927, até 1931 passou pelas prisões do Governo Civil de Coimbra, do Aljube e da Trafaria e foi deportado para Angola, Açores e Cabo Verde.
Em 22 outubro de 1931, foi enviado para o Campo de Concentração de Oecússi, em Timor. Devolvido à liberdade, entrou na clandestinidade e envolveu-se na preparação do 18 de janeiro de 1934, na sequência da qual foi preso no dia 26 daquele mês e encarcerado na Prisão do Aljube, vindo do Comando da Polícia de Segurança Pública (PSP) de Coimbra. Era acusado de ter redigido, imprimido numa tipografia clandestina e distribuído propaganda subversiva, de ter organizado um comício de preparação da revolta em Coimbra e de ter transportado bombas. Terá sido violentamente torturado e assumido sozinho a responsabilidade dos acontecimentos no intuito de poupar os companheiros. Enviado para a Prisão da Trafaria, foi condenado em Tribunal Militar Especial a vinte anos de degredo numa das colónias, com prisão no local, e multa de 20.000$00.
A 8 de setembro de 1934, seguiu para a Fortaleza de Angra do Heroísmo, nos Açores, onde participou em vários protestos contra as condições prisionais, pelo que, como punição, acabou por ser enviado para a «poterna» (espécie de cave semi-inundada de reduzidas dimensões, sem camas, enxergas ou cobertores, praticamente sem luz, muito húmida, com água a verter constantemente pelas paredes).
Faltava ainda um último destino na longa saga de prisão, sofrimento e tortura de Arnaldo Simões Januário. A 23 de outubro de 1936, foi transferido para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde acabou por morrer a 27 de março de 1938, vitimado por uma biliosa anúrica e sem qualquer assistência médica ou medicamentosa.