Memorial aos Presos e Perseguidos Políticos. https://www.memorial2019.org/site/

Belmira da Conceição Gonçalves

(Lombada da Ponta do Sol, Funchal, Madeira, 18.04.1945 — Cabo da Levada, Funchal, Madeira, 21.08.1962)

Belmira da Conceição Gonçalves, filha de Manuel Gonçalves Júnior e Ana Conceição Silva Relva, nasceu a 18 de abril de 1945 em Lombada da Ponta do Sol, na Ilha da Madeira, numa família muito numerosa de dezasseis irmãos.

Era estudante no Liceu Jaime Moniz, no Funchal, quando se deram as chamadas «Revoltas das Águas» na Lombada entre 6 de maio e 21 de agosto de 1962.

Os protestos radicam na decisão das autoridades em desviar as águas, nomeadamente as que corriam na Levada do Moinho, para um novo curso. Tal significava privar a população da Lombada das águas de que dependia. No início de maio de 1962, arrancam os protestos e ações de recuperação das águas desviadas. Vários homens desviam as águas de regresso ao seu curso original, a Levada do Moinho. Na sequência deste ato, a população passou diariamente a vigiar aquele curso de água de modo a impedir nova ação de desvio do seu fluxo. Belmira da Conceição foi uma de muitos que ali estiveram ao longo do verão de 1962.

Apesar da resistência popular, a Polícia de Segurança Pública (PSP) do Funchal, sob o comando de Luís da Costa Eduardo Rombert, dirige-se ao local para executar a «Operação Lua Cheia»: fazer a ligação das águas da Ribeira de Ponta do Sol à levada da Junta Geral do Distrito.

No dia 21 de agosto de 1962, a PSP cerca, espanca e abre fogo sobre quem ali se encontrava. Ao saber da presença policial, a população havia acorrido em massa ao local na defesa dos direitos das águas de rega. Segue-se uma vaga de rara violência, espancamentos, coronhadas e tiros disparados, primeiro para o ar, depois para quem guardava as águas, atingindo mortalmente Belmira da Conceição e fazendo vários feridos.

Belmira da Conceição Gonçalves, conhecida por Sãozinha, tinha 17 anos.

Outros testemunhos