José Lamego
Biografia
José Alberto Rebelo dos Reis Lamego nasceu em Coimbra a 5 de janeiro de 1953. Os primeiros passos na luta política contra a ditadura são dados no Liceu Pedro Nunes em Lisboa, nomeadamente no âmbito do Movimento Associativo dos Estudantes do Ensino Secundário de Lisboa (MAESL) e da Comissão Democrática Eleitoral (CDE), num ambiente marcado pelas eleições de 1969 e a radicalização do movimento estudantil. A atividade política intensifica-se na Faculdade de Direito de Lisboa, integrando a direção da Associação de Estudantes, e sobretudo depois de ser recrutado para o Movimento Reorganizativo do Partido do Proletário (MRPP) no início de 1972. No dia 12 de outubro de 1972, José Lamego é um dos muitos estudantes que participa no meeting contra a repressão e o imperialismo no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF) em que o estudante José António Ribeiro Santos é assassinado pela PIDE/DGS. Os estudantes detetam nas instalações um indivíduo suspeito e tomam-no por um agente da Direção-Geral de Segurança (DGS), embora fosse na realidade da Polícia de Segurança Pública. Elementos da direção da Associação de Estudantes solicitam a deslocação ao ISCEF de responsáveis da DGS para identificar o suposto agente da polícia política que, entretanto, fora encapuçado e levado para o anfiteatro, onde decorreria o meeting. A entrada dos elementos da DGS no anfiteatro suscita a reação hostil dos estudantes. Um dos agentes dispara à queima-roupa e atinge pelas costas Ribeiro Santos. Continuando a disparar, é manietado por José Lamego que, numa luta corpo a corpo, evita uma tragédia de maiores proporções e é baleado nume perna. A morte de Ribeiro Santos constituir-se-á como um momento marcante na radicalização não apenas do movimento estudantil, mas da própria oposição e até sectores que não eram particularmente radicalizados. Depois de receber tratamento hospitalar, José Lamego, que o MRPP reivindicara como militante do partido, é levado para a Prisão-Hospital São João de Deus de Caxias e, posteriormente, para o reduto Sul. Libertado a 9 de janeiro de 1973, volta a ser preso a 3 de maio na Cidade Universitária, em Lisboa. É levado para a Prisão de Caxias, onde é sujeito à tortura do sono durante 7 dias e depois mais 6, num total de 13 dias. Passa ainda 7 pensosos dias numa cela subterrânea, designada de “segredo”, durante os quais faz greve da fome. É solto em julho de 1973 e regressa a Coimbra, onde será preso pela terceira vez a 15 de fevereiro de 1974 durante uma ação de rua em que pintava paredes para a convocação de uma manifestação, seguindo novamente para Caxias. Será o período de prisão mais violento. É brutalmente espancado por um grupo de 6 elementos da DGS, julga ter sido drogado e é novamente submetido à tortura do sono durante 16 dias, seguindo-se novo período de 2 dias e outro de 3, sofrendo fortes alucinações. Libertado com 21 anos no dia 26 de abril de 1974, José Lamego sofrera no total 34 dias de privação de sono e, à exceção de um curto período durante a segunda prisão, esteve sempre em isolamento e nunca foi julgado.
