Maria de Lourdes Oliveira
(Lourosa, Santa Maria da Feira, 1947 — Lourosa, Santa Maria da Feira, 14.10.1964)
A 14 de outubro de 1964, tinha lugar um episódio ilustrativo da discricionariedade com que a violência da ditadura se podia abater sobre as populações. O «cerco de Lourosa» fez duas vítimas mortais e dezenas de feridos, mas caiu no esquecimento como acontecimento histórico. Estes eventos inspiraram, ainda assim, Bernardo Santareno a escrever a peça A Traição do Padre Martinho, cinco anos depois.
Maria de Lourdes Oliveira nascera, provavelmente, em 1947. Sabe-se que morreu em 1964 durante a repressão pela Guarda Nacional Republicana (GNR) do protesto popular na aldeia de Lourosa, Santa Maria da Feira, contra a retirada do pároco da freguesia. Damião Olindo das Neves Basto de apenas 26 anos havia chegado recentemente para dar apoio ao pároco local já bastante envelhecido. Após a morte deste, o padre Damião assumiria a paróquia em junho de 1964 e estabeleceria uma relação de grande proximidade e confiança com a população, sobretudo nos meios operários da indústria corticeira e entre os jovens. Era ainda conhecido por recusar receber honorários da população mais pobre.
Tido como demasiado progressista, será ordenada a transferência do padre Damião para outra paróquia, por decisão do administrador apostólico do Porto, Florentino de Andrade Sousa, que substituíra o então exilado bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, afastado por razões políticas.
O afastamento do pároco espoleta a indignação da população, sobretudo das mulheres que rapidamente se mobilizam para impedir a transferência, organizando vigílias permanentes para bloquear a saída de Damião.
No dia 14 de outubro de 1964, forças da GNR em grande número cercam a aldeia para retirar o padre Damião. A população reage, há confrontos e os soldados da GNR, segundo se conta, na ordem das centenas, fortemente armados, disparam. Cerca de vinte mulheres ficaram feridas em consequência da ação e das balas da GNR que matarão Maria de Lourdes de apenas 17 anos e Rosa Vilar da Silva.