Mário dos Santos Castelhano
(Lisboa, 31.05.1896 — Tarrafal, Ilha de Santiago, Cabo Verde, 12.10.1940)
Líder histórico do movimento anarcossindicalista, Mário Castelhano nasceu a 31 de maio de 1896 em Lisboa, onde residia no bairro da Graça. Começou a trabalhar aos 14 anos na Companhia Portuguesa dos Caminhos-de-Ferro (CP), tendo ascendido mais tarde a empregado de escritório. O ativismo e o envolvimento direto em inúmeras lutas operárias e sindicais levariam a que fosse despedido.
Presente nas greves dos ferroviários de 1911, 1918 e 1920, foi também dirigente sindical na CP, no Sindicato dos Ferroviários de Lisboa e vários sindicatos da Confederação Geral do Trabalho (CGT), e dirigiu os jornais A Federação Ferroviária, O Ferroviário e O Rápido. Pertenceu à comissão organizadora do I Congresso Ferroviário de junho de 1922 e à comissão executiva da Federação Ferroviária com o pelouro das relações internacionais. Participou, como delegado da Federação Ferroviária, no congresso nacional operário realizado na Covilhã em 1922 e esteve na reorganização do Conselho Confederal da CGT no verão de 1926, tornando-se secretário-geral e redator principal do seu órgão,
A Batalha.
Depois de em maio de 1927 a CGT ter sido ilegalizada e dissolvida e a sede do jornal A Batalha assaltada, Mário Castelhano é preso, em outubro, e deportado para Angola, onde permaneceu dois anos. Em setembro de 1930, foi transferido para os Açores e, em abril de 1931, seguiu para a Ilha da Madeira, onde logrou dar apoio à revolta contra a Ditadura Militar que ali se desencadeara. Falhado este movimento revolucionário, Castelhano conseguiu organizar a fuga para Lisboa, embarcando clandestinamente no porão do navio Niassa. Em 1933, voltou a ser o principal responsável da CGT e, nesta qualidade, esteve entre os organizadores do 18 de janeiro de 1934. No entanto, foi preso no dia 14 e colocado no Presídio Militar da Trafaria, acusado de ter estado envolvido na preparação da greve geral revolucionária em Sines e no fabrico de armas para a revolta na Marinha Grande.
Condenado, em 8 de março de 1934, pelo Tribunal Militar Especial a dezasseis anos de degredo nas colónias, com prisão e multa de 20.000$00, ficou entregue ao Governo. A 8 de setembro de 1934, seguiu para a Prisão da Fortaleza de Angra do Heroísmo, nos Açores. Dois anos depois, em outubro de 1936, foi transferido para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde. Neste presídio participou em várias lutas dos presos por melhores condições e desenvolveu importante atividade cultural, reflexiva e pedagógica.
Mário Castelhano morreria a 12 de outubro de 1940, vítima de febre intestinal, agravada pela constante falta de assistência médica e medicamentosa, bem como pelas paupérrimas condições de higiene do Campo de Concentração do Tarrafal.
Neste campo de concentração perderão a vida dois dos principais rostos das tendências políticas dominantes entre os presos ali desterrados: o anarquista Mário Castelhano e o comunista Bento Gonçalves.