Primitivo García Bárcia
(Cambedo da Raia, Chaves, 1946 — Porto, 1947)
Dez anos depois do Alzamiento franquista de julho de 1936, a aldeia de Cambedo da Raia, no concelho de Chaves, foi alvo de uma violenta ação conjunta da Guardia Civil espanhola, Exército português, Guarda Nacional Republicana (GNR) e Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE).
Situada junto à fronteia com a Galiza, Cambedo, aldeia que em 1864 fora incorporada no território português, há muito que refletia a porosidade das comunidades de fronteira, em que as redes de solidariedade locais, vivências comuns e laços familiares se sobrepunham a marcos geográficos. Vários refugiados e guerrilheiros galegos, procurando escapar ao terror franquista, encontram naquela zona, em particular em Cambedo, solidariedade e refúgio.
No dia 20 de dezembro de 1946 a aldeia foi cercada e bombardeada com tiros de morteiro. Os guerrilheiros galegos, Juan Salgado Ribero e Bernardino García y García, que ali se haviam refugiado, morreram, bem como dois soldados da GNR.
A «Guerra do Cambedo» foi encoberta pela censura e apagada da história. Os acontecimentos que levaram ao bombardeamento foram fixados como meros episódios de banditismo e os resistentes galegos apresentados invariavelmente como «bandoleiros». PIDE e GNR farão dezenas de detenções na região, prendendo famílias inteiras, acusadas de acolher «bandos de malfeitores».
Uma destas famílias foi particularmente martirizada. Manuel Bárcia é um dos detidos pela PIDE na sequência dos acontecimentos, tal como a sua esposa, Manuela García Bárcia, o pai, o sogro, o irmão, a irmã da esposa e o cunhado. Com grande parte da família presa, Manuela García Bárcia foi presa com o filho de ambos que era ainda bebé. Chamava-se Primitivo e viria a morrer em 1947, ao que tudo indica nos cárceres da PIDE do Porto, com uma pleurisia, resultado de uma pneumonia, com apenas um ano de idade.