NAQUELE DIA, NÃO PASSOU NA TELEVISÃO
Este espetáculo evoca a memória e a história do estudante José António Ribeiro Santos, assassinado por um agente da PIDE-DGS numa reunião no ISCEF (Instituto de Ciências Económicas e Financeiras, hoje ISEG), em Lisboa. Era um “meeting” (como os estudantes chamavam a estas reuniões) – um “meeting contra a repressão” – na qual se discutia a intensificação da repressão aos estudantes e às suas associações por parte do regime. Também se discutia o imperialismo e o colonialismo, tendo por mote a Guerra do Vietnam (uma forma de discutir a guerra colonial que Portugal travava nas suas colónias africanas desde 1961).
Os estudantes apercebem-se de que há um “bufo” (informador da PIDE) infiltrado na reunião e é feito um telefonema para a PIDE-DGS, para que o viessem identificar. Má ideia.
Ribeiro Santos foi alvejado por um desses PIDES e acabaria por morrer à chegada ao Hospital Santa Maria. Este trágico acontecimento marcou a vida de muitos e muitas que o viveram ou que testemunharam as suas repercussões, nomeadamente o funeral de Ribeiro Santos no dia 14 de Outubro de 1972, com a presença de milhares de pessoas, e que se tornou num momento de afrontamento do regime, de protesto e de resistência.
Em Naquele dia, não passou na televisão o Teatro do Vestido parte de testemunhos e documentos para relatar a forma como a morte deste jovem foi divulgada, quer pelos seus amigos, apoiantes e companheiros de luta, quer pelo regime, que tudo fez para disfarçar o seu assassinato como um “acidente”, fruto de desacatos com os estudantes, em “tiros disparados para o ar.” Não por acaso, 2 anos depois, à porta da Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, no dia 25 de Abril de 1974 os mesmos “tiros disparados para o ar” serviriam como alibi para os agentes da PIDE que dispararam sobre a multidão matando 4 pessoas. Era um modus operandi.
Mas por ora, no dia 12 de Outubro de 1972, os estudantes que participavam daquele “meeting” estavam longe de imaginar essa revolução futura, como também não imaginavam a troca de tiros que resultaria nesta trágica morte.
Num panfleto escrito logo após este assassinato e distribuído nos dias 13 e 14 de Outubro de 1972, lê-se “Abaixo o Terror Fascista. O Estudante Ribeiro Santos foi Assassinado.” Em torno da morte de Ribeiro Santos, a resistência estudantil cerrou fileiras, e este jovem de 26 anos tornou-se num símbolo da luta contra o aspecto mais repressivo de um regime que durava há demasiado tempo.
Escrevia Ribeiro Santos numa carta a um amigo, em Julho de 1972, “Porém, todas as notícias que eu gostaria de te fornecer condensam-se numa só, que se pode sintetizar em poucas palavras: cresce rapidamente o descontentamento popular, e, com ele, a repressão“. E alguém sublinhou a parte: “cresce rapidamente o descontentamento popular.” Como um mantra para uma revolução sonhada.
Investigação, Texto, Direcção Joana Craveiro Co-criação e Interpretação Estêvão Antunes, Francisco Madureira, Inês Rosado, Tânia Guerreiro, Tozé Cunha Música e Espaço Sonoro Francisco Madureira Cenografia Carla Martínez Desenho de luz Joana Craveiro, com a colaboração de João Cachulo Video (montagem, co-criação e operação) José Torrado Direcção de Produção Alaíde Costa Co-produção Museu do Aljube – Resistência e Liberdade, Teatro das Figuras e Teatro do Vestido.
O Teatro do Vestido é financiado por República Portuguesa – Cultura | Direcção-Geral das Artes
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Sobre Ribeiro Santos, mais informações aqui.