Solidão Povoada de Óscar Alves

SOLIDÃO POVOADA de Óscar Alves

17 de Novembro de 2022 - 19h00
AUDITÓRIO DO MUSEU DO ALJUBE

Parte do ciclo de cinema da programação paralela da exposição “Adeus Pátria e Familia” exibimos o filme “Solidão Povoada” de Óscar Alves.

SOLIDÃO POVOADA
Óscar Alves • 1976 • Portugal • 45 min

Primeira longa‐metragem de Óscar Alves e o único filme da sua curta carreira como realizador que explora o registo do melodrama, não será ousadia afirmar que Solidão Povoada é herdeira de uma estética visual do Cinema Novo, cuja grande referência é o Verdes Anos (1963), de Paulo Rocha. Situado numa Lisboa pós 25 de Abril, que se quer cosmopolita, o filme retrata dois casais de classe média, interpretados por Domingos Oliveira, Carla Tuly, Fernando Silva e Isabel Wolmar. Na primeira cena do filme, apercebemo‐nos desde logo da relação entre o protagonista (do qual nunca sabemos o nome) e Fernando. Estamos no apartamento das Amoreiras do primeiro, e Fernando liga‐lhe de uma cabine. Já no carro, a caminho de Monsanto, o protagonista recorda a sua separação da ex‐namorada (Carla Tuly), num flashback onde vemos os dois, numa encenação teatralizada nas ruínas do Carmo, a seguirem cada qual o seu caminho. Num outro flashback, ele recorda como conheceu Fernando, no dia em que foi à fábrica de vidro que ele dirige com a mulher (Isabel Wolmar), fazer uma encomenda. O protagonista parece já ter assumido a sua homossexualidade há algum tempo, pois antes desse primeiro jantar, a sós, com Fernando, ele vai “despedir‐se” da travesti (interpretada por Belle Dominique), ao seu camarim, dizendo‐lhe que não pode assistir ao espectáculo de logo à noite, indiciando a ruptura de uma relação que foi “necessária”, mas sem futuro, pois ele, na verdade, repudia o mundo em que ela vive. Depois desse primeiro jantar romântico a sós, os dois homens acabam por dormir juntos. Na casa de Fernando, a sua mulher espera longas horas por ele e à sua chegada ela abraça‐o, acabando os dois por fazer amor. Em off, ouvimos Fernando dizer “tudo isto é uma farsa”, enquanto recorda o seu amante, nu, sentado numa rocha em Monsanto. Este flashback indica‐nos que a relação entre ambos já avançou no tempo e que os dois não tiveram apenas aquela noite juntos, depois do jantar, mas que são amantes há já algum tempo. Solidão Povoada parece querer marcar uma crescente discrepância entre um Portugal pré‐revolução e uma mentalidade nova que se adivinha. Num encontro num antiquário, o protagonista e sua ex‐namorada estão juntos às compras, como amigos, e o discurso dela é o da tolerância perante a sexualidade dele. Já Fernando permanece casado. Na sequência final do filme, vemos uma Lisboa cheia de gente anónima na rua, onde cada um dos quatro personagens caminha só, cruzando‐se, eventualmente, sem se conhecerem (reconhecerem?). Quatro realidades que se cruzaram numa Lisboa em transformação. J. F.

Óscar Alves nascido no Porto, estudou desenho, pintura e escultura com Maria Lúcia Carneiro e Oldemiro Carneiro, ao mesmo tempo que ingressa na Escola Superior de Belas‐Artes. É colaborador assíduo de uma das mais importantes revistas intelectuais da época, a Bandarra. Integra o elenco do Teatro Experimental do Porto (TEP), dirigido por António Pedro. Ao mudar‐se para Lisboa, expõe na Sociedade Nacional de Belas‐Artes (SNBA) e integra o elenco do Teatro Monumental, representando, ao lado de Laura Alves e Paulo Renato, O Amansar da Fera, de Shakespeare, entre outras peças. Começa a sua carreira na televisão, como principal intérprete de, entre outras, Dois Cavaleiros de Verona, de Shakespeare, e Falar a Verdade a Mentir, de Almeida Garrett. Com a poetiza Natália Correia, realiza na SNBA um polémico espectáculo de poesia surrealista. Por esta altura, as suas obras já integram o circuito de diversas galerias de arte. Nos anos 70 experimenta ainda a realização cinematográfica. Em 1980 abandona definitivamente o mundo do espectáculo, radicando‐se em Madrid. Regressa a Lisboa em 1985, a convite da RTP, para dirigir um programa sobre artes plásticas e, um ano depois, outro sobre o mundo do espectáculo. Regressa ainda a Madrid para, com a TV Espanhola, filmar a retrospectiva de Salvador Dali. Desde então Óscar Alves já teve obras suas vendidas na Christie’s de Londres e de Nova Iorque e expõe regularmente na capital espanhola e em Itália.

Entrada livre, sujeita à lotação da sala.
Inscrições para: inscricoes@museudoaljube.pt

Com apoio Queer Lisboa

Outros eventos

Itinerário “A Revolução está na rua!” com LGP
Um percurso no qual vamos à descoberta de alguns locais e momentos determinantes do dia 25 de Abril e do processo revolucionário de 1974 e 1975.
Data a definir
Leia Mulheres sobre Alba de Céspedes
O Museu do Aljube volta a acolher a próxima sessão do clube, que é dedicada a Alba de Céspedes com o livro "Caderno Proibido".
26 de Janeiro de 2025 - 15h00
“Revolução e as lutas pela habitação”
A propósito das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, o ciclo "E se trocássemos umas ideias sobre a Revolução.
16 de Janeiro de 2025 - 18h00
Apresentação do livro “Lutaram pela Liberdade – uma história da resistência à ditadura fascista no concelho de Mafra (1926-1974)”
O livro trata-se de uma reedição da URAP, da responsabilidade do núcleo local e de outros democratas e antifascistas do concelho. Uma apresentação que contará com a presença de Luís Farinha.
14 de Janeiro de 2025 - 18h00